O centro de São Paulo percorrido por ciclista iniciante

Em 2015 tive um compromisso em São Paulo, como regularmente ocorria.

Residia em Santos, Claudia e Fabio já moravam no Rio e Marina no centro de São Paulo, na esquina da Rua Dr. Vila Nova com a Major Sertório, em um edifício frontal à simpática Praça do Rotary, onde, do outro lado, fica a Fundação Escola e Sociologia Política de São Paulo – FESPSP, instituição na qual ministrava uma disciplina esporádica em um curso de pós- graduação latu sensu, focado em gestão ambiental.

Éramos nós dois, portanto, os mais próximos à cidade de São Paulo ao considerar a distribuição geográfica da nossa família naquele momento.

Respondia pela gestão da Área de Proteção Ambiental Marinha Litoral Centro, atendendo convite do estimado Icaro Cunha, diretor da Diretoria do Litoral Norte – DLN da Fundação Florestal da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, localizada no Parque da Cantareira, região norte de São Paulo, instituição responsável pela gestão das Unidades de Conservação do estado de São Paulo e resultado da estratégia de desmonte do sistema ambiental paulista. Mas, esse já é outro assunto ainda que tenha relação direta com o sinistro que vitimou Marina, como resultado do desmonte de políticas públicas arduamente construídas.

Nesse dia tive uma reunião na Fundação Florestal que, de antemão, estimava que seria rápida e, como resultado, estaria liberado antes do almoço.

Na noite anterior liguei para Marina comentando que iria à reunião pela manhã e que, depois, se ocorresse o previsto, queria revê-la para almoçarmos juntos.

– Amanhã falamos! Foi a conclusão da conversa.

No outro dia, desloquei-me cedo para São Paulo e às 08:30h já estava na referida Fundação.

Houve a reunião e, como previsto, terminou por volta das 11:00 h.

Liguei para Marina e comentei que estava liberado mas que, por ter me deslocado com veículo oficial, não poderia dar carona ou levá-la para nenhum local visto não ter ligação com a APA Marinha Litoral Centro ou com o governo do estado de São Paulo.

– Já está tudo resolvido. Venha para minha casa e aqui veremos como fazer, foi sua resposta.

Dirigi-me para o centro de São Paulo, caminho para descer para a baixada santista, tranquilizado por não precisar me deslocar do meu percurso e por Marina já ter a solução para o que me parecia ser, em um primeiro momento, um obstáculo para o nosso encontro e atividade.

Cheguei na Praça Rotary, estacionei o veículo e fui para a portaria do edifício onde Marina morava para avisá-la de que havia chegado.

– Já estou descendo, me disse pelo interfone.

Logo depois chega Marina, com aquele sorriso lindo a iluminar seu rosto, para me cumprimentar com o delicioso abraço que sempre nos presenteávamos!

E aí? Perguntei já algo curioso para saber qual a solução criada por Marina para aquele problema apresentado por mim.

– Vem comigo, disse-me, entrando na garagem do prédio e dirigindo-se para o suporte onde ficavam as bicicletas.

Pegou uma delas, de cor vermelha, e me passou.

– Pega! Esta está boa para você! Anima-se a ir com ela? – disse-me enquanto pegava uma outra, a branca, com guidão baixo, para ela.

– Vamos de bicicleta? Para onde? Como? Perguntei surpreso e algo pasmado com a ideia…

– Sim! Vou te levar a um restaurante muito legal! E vamos de bicicleta para entender como é a vida de uma ciclista nessa cidade.

Não muito convicto e bastante preocupado, para falar a verdade, não tive como não aceitar a proposta. Até porque a solução já estava decidida e muito bem esquematizada. E não faria sentido eu, que a havia ensinado a andar de bicicleta pedalando em São Paulo e Santos, amarelasse naquele exato momento e oportunidade. Dei-me conta de que na época que utilizava bicicleta em São Paulo, na minha adolescência, não o fazia como meio de transporte. Mas, como lazer e atividade física.

Morava na Vila Madalena, atrás do Max – Colégio Estadual Maximiliano da Fonseca, onde estudei – e as maiores e mais ousadas incursões que fiz foi ir até a USP, escondido e sem minha mãe saber.

Ir de bicicleta para a região da Av. Consolação e centro de São Paulo era algo inconcebível para mim, mesmo naquele momento com Marina.

Simples questão objetivamente resolvida com simplicidade por Marina.

Saímos da garagem empurrando as bicicletas e chegamos no limite da calçada com a rua.

Marina, talvez constatando meu ar algo surpreso, para não dizer estupefado, perguntou- me:

– Está tudo bem?

Sim, respondi-lhe, talvez não com a ênfase esperada por ela, com nós dois já montados nas bicicletas apontadas no sentido da mão do trânsito, no lado direito da rua, com um pé no chão para nos apoiar enquanto estávamos imóveis.

– Então, tá! Me segue.

Rua Major Sertório em momento sem nenhum trânsito e sem relação com a experiência vivida naquele dia. No primeiro plano e à direita, a saída do estacionamento do prédio onde Marina residia.

E saiu pedalando naquele suave declive, atrás, em um primeiro momento, dos veículos que trafegavam aquele trecho para, logo em seguida, igualar a velocidade em pouquíssimo tempo depois de saído da imobilidade.

Eu, pedalando junto, e sem entender direito o que estava acontecendo, respeitei a orientação:

– Me segue!

Tentando segui-la…

Antes de chegar ao posto da PM, situado na esquina da Praça Rotary, à esquerda de quem vai, Marina fez um sinal para o motorista com a mão esquerda do braço estendido, informando sua intenção de cruzar na frente do seu veículo branco, passando, em seguida, para o lado esquerdo da rua antes mesmo de chegar na cabine da PM.

Eu, pedalando atrás e sem saber o que fazer a não ser segui-la, também cruzei as duas faixas, após o veículo com a frente cortada por Marina. Algo tranquilizado, e até com certo orgulho, para falar a verdade, pelo resultado da minha determinação e resultado obtido, ao mesmo tempo em que imprimia mais força no pedal tentando acompanhar Marina não deixando-a se distanciar.

Ao chegar na esquina da Rua Major Sertório com a Av. Amaral Gurgel, debaixo do Minhocão, o sinal, felizmente, estava fechado e precisamos parar.

Encostei ao lado dela que, me olhando com um ar maroto e provocador, repetiu-me a pergunta:

– Está tudo bem?

–  Está doida? Ficou louca? Está maluca? Respondi eu com aquele ar de autoridade que todos os que viram os seres crescerem sob seus cuidados se julgam no direito de ter…

–  O que aconteceu, pai? O que foi? Por que essa pergunta?

–  Filha, como é que sai andando nessa velocidade e cruzando à frente dos veículos, como uma doida? Foi a pergunta que devolvi.

–  Pai, se não andarmos na frente dos carros, os motoristas não nos enxergam! E se não nos enxergarem, aí é que corremos risco.

Sem dispor de contra-argumento, parei para pensar.

E, consternado, aguardei as próximas pedaladas pois não sabia para onde iríamos, visto fazer parte da surpresa do percurso e da experiência ciclística metropolitana planejada.

O sinal abriu e Marina, com pedaladas vigorosas, asseguradas pelas suas vigorosas pernas – foi algo que também me surpreendeu –, ganhou velocidade, comigo tentando acompanhá-la, seguindo o aclive na mesma rua, virando à esquerda na Rua Araújo, descendo duas quadras e entrando à direita na Praça da República onde, na esquina com a Av. São Luiz, havia um sinal fechado. Novamente motivo de alguma felicidade.

– Tudo bem? – Perguntou-me com seu olhar penetrante por trás das lentes dos grandes óculos daquele tipo que vi no desenho das esquilas, no “Alvin e os Esquilos”?

Já sabedor de uma das principais regras do pedal urbano – há que se andar, na medida do possível, sempre à frente dos veículos automotores sob risco de se posicionar em áreas mortas de visão e, como tal, os ciclistas não serem vistos – respondi-lhe que sim, ainda que, em virtude do esforço e tensão, sentisse minhas pernas quase tremendo…

O sinal abriu e seguimos nós pela Av. São Luís, pegando a faixa da esquerda, com Marina pedalando forte e eu ficando para trás por não pedalar tão rápido como ela.

Praça da República e, a frente, Av. São Luis, em momento de trânsito calmo, tranquilo e sereno.

Enquanto me safava do trânsito observando Marina mais à frente, sempre sinalizando com a mão anteriormente a qualquer iniciativa tomada e, principalmente, mudança de faixa, recordei-me do que se mostrou como um dos únicos aprendizados úteis depois de ter servido, como soldado, no II Batalhão de Polícia do Exército, em 1976/77, afeito ao controle de tráfego, uma das funções de um “policial do exército”…

– Qualquer comando ou orientação apresentada para um motorista pressupõe que ele o esteja vendo e tenha sua atenção despertada antes da mensagem a ser enviada.

Em outras palavras, não adianta apenas fazer o gesto comunicando o que precisa ser feito se a atenção do condutor do veículo não foi desperta e, como tal, não abriu canal visual com aquele que emitirá a informação.

O gesto pode ser feito.

Mas, se não foi percebido ou registrado, de nada valeu aquele gesto visto que a mensagem não chegou ao destinatário.

Dei-me conta dessa falha de comportamento no trecho daquela avenida, defronte à Biblioteca Mario de Andrade, antes de entramos, tomando a esquerda, na Rua da Consolação e, em seguida, Rua Xavier de Toledo, passando pelo Largo da Memória, onde meu pai trabalhou em uma loja de meus tios, que tão cedo conheci, uma vez que adorava ver a água jorrando em uma fonte que não existe mais.

Paramos no sinal da Praça Ramos de Azevedo / Viaduto do Chá e, depois de aberto, seguimos pelo lado e por trás do Theatro Municipal de São Paulo, entrando à direita na Rua Conselheiro Crispiniano e parando, novamente, no sinal com a Av. São João.

Sinal aberto, novamente o mesmo procedimento…

Energia e força nos pedais para sair na frente dos automóveis e assegurar que fossemos vistos pelos motoristas dos veículos!

Entramos à direita no Largo do Paissandu, passando pela frente do Ponto Quatro, o tradicional, e entramos à esquerda na Rua do Boticário para, logo em seguida, chegar na Leiteria Ita, objetivo do percurso – surpresa para mim – e local onde almoçaríamos.

Rua do Boticário, em dia sem expediente, onde se situa a Leiteria Ita, uma ótima experiência gastronômica, social, história e, no meu caso, astral!

Bicicletas presas nos cadeados, aguardamos liberar lugar no balcão para saborear deliciosos e honestos pratos de diversos tipos e gostos.

Percurso percorrido por bicicleta entre a casa de Marina e a Leiteria Ita.

Satisfeitos depois do almoço, pedi dois cafés para quem nos atendia.

– Não! Quero te levar em outro lugar para tomar esse café!!!

– Então vamos! A minha singela e entusiasmada contribuição à ideia de Marina.

Bicicletas soltas, seguimos pelo Largo do Paissandu e Av. São João até entrar na Av. Ipiranga e passar, novamente, pela Praça da República até chegar na Praça Roosevelt, seguindo pela rua do tão outrora afamado Cine Bijou, com seus ótimos filmes de arte, estranhos ao circuito comercial da época, e entrando à esquerda na Rua Nestor Pestana, até chegar no PPD – Por um Punhado de Dólares, outra grande experiência sensório-cultural a mim apresentada por Marina!

Vista do Café Por um Punhado de Dólares.

O lugar, muito agradável, oferecia ambiente e diferentes tipos de cafés de ótima qualidade!

Experimentei alguns tipos de cafés, conversamos e, pouco tempo depois, fomos embora. A fotografia que registrou esse momento em breve será incorporada a este texto.

Percurso percorrido entre a Leiteria Ita e o Café Por um Punhado de Dólares.

Voltamos para sua casa, onde deixei a bicicleta, nos despedimos e segui viagem de volta para Santos, satisfeito com o feito e muito feliz por ter passado esses intensos e surpresos momentos com minha amada filha Marina.

Percurso entre o Café Por um Punhado de Dólares e a casa de Marina.

Não me dei conta, naquela ocasião, que aqueles momentos vividos em pouco mais de uma hora e meia possibilitaram-me vivenciar a mais incrível, surpreendente e inesquecível experiência que tive com minha filha, Marina Kohler Harkot, no trânsito e no centro de São Paulo fazendo uso de uma bicicleta.

Tão marcante e alto astral que, agora, ao revisitar o ocorrido para registrar as impressões neste texto, é como se estivesse percorrendo novamente o trajeto, rememorando as passagens e revivendo os fatos mais marcantes, quase que em tempo real.

As reflexões, agora revividas, confirmam que:

  • O uso de bicicleta como meio de transporte é ágil, rápido, agradável e possibilita interagir com o ambiente, paisagem e população como não é possível ocorrer se utilizado qualquer outro modo de transporte. O uso de bicicletas, portanto, contribui para amplificar as características humanas positivas dos usuários e, no conjunto, humanizar, pelo aspecto benéfico, a região onde se dá a vivência;
  • Como resultado, a interação com os outros habitantes, tanto pedestres como ciclistas, é próxima e muito mais intensa ao se mover com bicicleta no centro de São Paulo, como pude observar;
  • Há necessidade de bom condicionamento físico e cardiorrespiratório para se transportar por meio de bicicleta. Algo que, por si só, contribui para a melhora e manutenção da saúde física, emocional e psicológica do indivíduo;
  • O encontro com outros ciclistas sempre é motivo de alegria por identificar, em um desconhecido outrem, alguém próximo a ti, visto comungarem os mesmos propósitos relacionados ao modo adotado para se locomover;
  • O traslado entre diferentes pontos e destinos no centro de São Paulo, como no caso descrito, é muito mais rápido de bicicleta do que qualquer outra opção de transporte disponível, seja a pé, de ônibus, táxi, veículo particular, patinete, skate ou, quiçá, charrete movida por animal semovente;
  • O custo desse tipo de deslocamento é ínfimo, mesmo considerando o desgaste dos pneus e freios de uma bicicleta. Sem contar com o tempo economizado que, se monetizado, pode ser significativo; e
  • Se passasse a morar, trabalhar e viver nas proximidades do centro de São Paulo adotaria a bicicleta como meu principal modo para transporte.

No que respeita às atitudes e comportamento dos ciclistas:

– Importante ressaltar que a segurança do ciclista está diretamente relacionada à recepção e compreensão das informações emanadas pelo emissor para os condutores de veículos próximos com os quais interage.

Muito pouco vale, para não dizer que nada significa, um ciclista fazer um sinal com a mão para informar um condutor de veículo que se aproxime por trás da decisão e atitude que pretende tomar se não se certificar de que o receptor, ou condutor do veículo, teve sua atenção desperta, registrou o sinal enviado a tempo e entendeu o significado da mensagem.

Afinal, a/o motorista pode estar cuidando do filho que caiu do banco, separando dois filhos brigando no banco de trás, consultando o celular ou mesmo conversando com o outro passageiro e, no exato momento em que o ciclista faz o sinal, não pode perceber a tempo de adotar a providência cabível evitando um sinistro com consequências sérias ou mesmo fatais.

E, com relação ao selvagem e violento comportamento de muitos motoristas na cidade de São Paulo, demais municípios, estados e país:

  • As campanhas divulgando o perigo e risco da condução irresponsável de veículos devem ser incentivadas e utilizadas intensivamente nas mais diferentes mídias;
  • A leniência e delonga na tramitação das ações judiciais devem passar a ser mais rígidas e ter seus ritos abreviados, sob risco de continuar a estimular a ação irresponsável de muitos condutores de veículos.

Afinal, e ao considerar as populações menos favorecidas, o Estado brasileiro protege o hipersuficiente – no caso o proprietário e motorista do veículo –, em detrimento do hipossuficiente – como os pedestres e ciclistas –, muito mais frágeis e, portanto, mais suscetíveis a mortes e mutilações como resultado da condução irresponsável e criminosa dos veículos pelos primeiros, também demonstrada pela massa e capacidade de causar danos de um veículo automotor, principalmente se conduzido em alta velocidade.

O mesmo podemos constatar com relação à questão fundiária, onde a legislação protege o latifundiário, indistintamente dos meios utilizados para se tornar um grande proprietário de terras – e, portanto, hipersuficiente -, em detrimento dos menos favorecidos e sem- terra – os hipossuficientes -, que deveriam ser protegidos, e nunca criminalizados, por esse mesmo Estado.

  • Para fins de melhoria e aprimoramento do sistema legal e judiciário, demonstra-se de fundamental importância comparar a operação do sistema judiciário brasileiro com a de outros países e, principalmente, os desenvolvidos, para identificar procedimentos e estratégias capazes de agilizar os passos a serem adotados para apurar responsabilidades de condutores irresponsáveis, a agir criminosamente, para assegurar a punição devida no mais breve prazo possível.
  • Realizar, enfatizar e disseminar campanhas educativas para demonstrar o absurdo e estúpido significado de qualquer ferimento, mutilação ou morte causada por um sinistro envolvendo veículo automotor, principalmente quando conduzido de forma irresponsável.

Não faz sentido, não é difícil concordar, que um objeto mecânico a servir de veículo para transporte de pessoas e carga possa, ao ser irresponsavelmente conduzido, ameaçar, danificar ou extinguir a vida dos seres humanos que o utilizam, ou estão à sua mercê no trânsito.

Isso é preconizado pela Visão Zero, um programa desenvolvido na Suécia, a partir de 1997, baseado “… na premissa que nenhuma morte prematura é aceitável, entendendo que a vida humana é principal prioridade, sobrepondo-se à eficiência da mobilidade e quaisquer outros objetivos dos sistemas viários e de transporte…”, aparentemente desconhecido dos prefeitos e secretários de transporte do município de São Paulo:

  • Divulgar massivamente esses trágicos exemplos para despertar a atenção e desestimular a ação irresponsável de motoristas criminosos, que se escoram na certeza da impunidade para ceifarem vidas, mutilarem outras pessoas e desestruturarem famílias, que são diuturnamente obrigadas a passar por esse tipo de trágica distopia;
  • Assegurar, no caso dos sinistros causados por irresponsabilidade ou condução criminosa, a punição, com a agilidade necessária, dos responsáveis e culpados por tais atos.

Pesquisadores e autoridades na área de mobilidade urbana costumam ter leitura fundamentada, distintiva e importante a respeito da relação entre a violência no trânsito e o nível educacional e de desenvolvimento de uma sociedade:

 

“O trânsito pode ser considerado como a imagem espelhada do nível de educação e desenvolvimento da sociedade que se está a considerar.

Quando o grupo social é educado e socialmente desenvolvido, o trânsito é calmo e cordato predominando o respeito. Nesses casos, é raro ocorrer sinistros violentos com vítimas em acidentes de trânsito.

Quando a população não tem educação e o grupo está longe de ser socialmente desenvolvido, o trânsito é violento tal qual a relação entre as pessoas e resulta em graves sinistros com vítimas, mutilações e ferimentos recorrentes”.

 

É o que ocorre no Brasil e, particularmente, na cidade de São Paulo onde o número de ciclistas mortos pelo trânsito tem aumentado ano a ano.

Graças, especialmente, a João Dória, responsável pelo Acelera/Atropela São Paulo, que desarticulou as iniciativas de abrandamento do tráfego no município e se coloca como corresponsável pelo sinistro que vitimou Marina dentre outros diversas vítimas após o aumento da velocidade nas avenidas. Bem como Bruno Covas, depois do grande estrago que causou ao sistema ambiental paulista como Secretário de Meio Ambiente, e o atual prefeito, Ricardo Nunes, apoiadores tácitos e na prática das medidas que resultaram no aumento das vítimas fatais no trânsito de São Paulo, cujos resultados danosos crescem ano a ano.

Buscando contribuir para o esclarecimento e aumento do foco e atenção para tão sério problema de saúde pública – visto as mortes e mutilações causadas pelo trânsito no Brasil impactarem tão grande número de pessoas e familiares – confiamos que o Observatório da Impunidade no Trânsito do BrasilOITB, por hora hospedado neste site, consiga apoiar ações para atenuar tão premente e trágico problema, com eficácia e em tempo hábil, para desarticulação dessa tão dolorosa, trágica e distópica realidade que assola nosso País, como regra, e a cidade de São Paulo, como exemplo específico e estudo de caso.

Para tanto, há que sensibilizar a população e, principalmente, os condutores de veículos com hábitos selvagens, para que passem a se sentir como integrantes do tecido social tão destroçado pela violência no trânsito.

Em termos objetivos e práticos, o sinistro em que Marina se viu inadvertidamente envolvida deve ser adequadamente compreendido para que nunca mais possa ocorrer algo semelhante com nenhum ciclista e/ou pedestre.

Marina se deslocava próximo à guia da quarta faixa, reservada aos ônibus, no lado mais à direita da avenida Paulo VI, visto precisar tomar a primeira rua à direita para seguir pela Av. Dr. Arnaldo, em local fartamente iluminado e sem trânsito, em controlada e segura condição de tráfego, com a sua bicicleta com sinalizadores luminosos a frente e atrás, com alforjes com marcas fosforescentes e ainda mais facilmente visível se iluminada por farol de veículos.

Percurso regularmente percorrido por Marina e, no circulo vermelho, o local aproximado do sinistro.

Marina teve sua vida precoce e brutalmente interrompida por meio de selvagem atropelamento, causado por um pesado veículo – mais de 1.600 kg -, conduzido, segundo informa a mídia, por motorista que trafegava em alta velocidade que fugiu sem prestar socorro, a exemplificar o nível de individualismo, e selvageria, que acomete muitos condutores de automóveis em nosso país.

Ainda que nenhum tipo de punição e ação corretiva traga Marina de volta ao nosso convívio, consideramos que a presente contribuição, além de dar continuidade aos esforços e atividades realizadas nas suas linhas de atuação profissional, possa contribuir para diminuir, e idealmente eliminar, esses tipos de sinistros envolvendo a condução selvagem e irresponsável de veículos automotores.

Para mais informações, acesse https://pedalecomomarina.org.
E para apoiar e dar suporte às iniciativas, nos contate por meio de

pedalecomomarina@gmail.com.

Afinal, e como passamos a divulgar depois de envolvidos e comprometidos com a presente situação, qualquer ser humano em sã consciência apoia as causas e objetivos defendidos por Pedale Como Marina e demais movimento de proteção à vida e integridade física de de ciclistas, pedestres e usuários do trânsito no Brasil.

Mas, é importante que o faça agora, antes que, por passar por situação semelhante, venha a efetivamente se envolver, comprometer e apoiar.

Infelizmente, trata-se apenas de questão estatística…

E a dúvida não é SE pode ocorrer com algum de seus familiares ou entes queridos.

Mas, QUANDO ocorrerá.

Por isso, e antes que ocorra algo trágico como aqui relatado com algum dos seus, apoie, se envolva e se comprometa para a eliminação das causas da violência no selvagem trânsito brasileiro.

Como declarava Raul Aragão, cientista social e colega de Marina assassinado pelo trânsito em Brasília, em 2017, “Pedalar é Suave”.

https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/rodas-da-paz-pede-que-ministerio- publico-investigue-morte-de-ciclista-no-df.ghtml

O que não é suave, e muito menos aceitável, é a violência do trânsito que nos acomete.

Rio Grande, RS, 08 de novembro de 2023

Paulo F. Garreta Harkot

Pai de Gabriel, Marina e Fabio Avô de Pedro e Miguel

 

Agradecimento especial à Sandra Cureau pela revisão e sugestões para o texto.

Mensagens para O ❤

Náfissays:

Excelente texto! Descreve com minúcia tudo o que se perde quando uma vida é ceifada prematura e criminosamente. Perdemos todos! Nós perdemos uma cientista, um futuro promissor para o país, agora imaginem a família, imaginem! É urgente que se criem leis precisas para trânsito e que sejam cumpridas. O não cumprimento deverá incorrer em penas severas, visto que o resultado deste crime ou paralisa uma pessoa eficiente, gerando inclusive altos custos para o Estado, ou diretamente encerra vidas e cria consequências. Não seremos co-autores, por omissão, dessa selvageria, como bem adjetivou o autor Paulo Harkot. Obrigada pelo belo texto e seus alertas.

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